Copenhague termina sem acordo e muita decepção

20-12-2009 16:01

A Conferência das Nações Unidas simplesmente registrou o Acordo de Copenhaga sobre o clima concluído sexta-feira.

O acordo, na verdade, é apenas uma declaração política de intenções, sem metas concretas para a redução de emissões, e foi violentamente criticado na última seção plenária da conferência.


 

O facto da ONU ter “registado o acordo de Copenhaga lhe dá um estatuto legal suficiente para torná-lo operacional sem necessidade de aprovação das partes”, explicou à agência de notícias AFP o director da ONU para questões científicas, Alden Meyer.

O acordo de Copenhaga, um documento de apenas três páginas, fixa como objectivo limitar o aquecimento climático a 2 graus em relação ao período pré-industrial.

Ele prevê também um fundo de 30 biliões de dólares a curto prazo (2010, 2011 e 2012) e posteriormente 100 biliões até 2020, destinado prioritariamente aos países mais vulneráveis às mudanças climáticas, para ajudá-los a se adaptar aos efeitos do clima.

Toda referência a uma redução de 50% as emissões de gases que provocam o efeito estufa até 2050, foi eliminada do texto, como também a criação de um órgão de controle, exigências recusadas pelos países em desenvolvimento.


 

Declaração política

Na origem dessa acordo houve um “declaração política” de cerca de 30 países, que foi anunciada precipitadamente sexta-feira à noite como “acordo de Copenhaga” pelo presidente estadual Barack Obama e pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy.

“Um avanço significativo e sem precedentes” disse Barack Obama, acerca do acordo destinado a lutar contra as mudanças climáticas. O próprio Obama havia constatado, no entanto, que havia “um impasse fundamental nas perspectivas” entre os grandes países industrializados como os Estados Unidos os países mais pobres.

O texto foi submetido durante a noite à última assembleia plenária da conferência (193 países), assembleia que se tornou um verdadeiro psico-drama.


 

Violência verbal

Impotente, com os olhos vermelhos de cansaço, o primeiro ministro dinamarquês Lars Loekke Rasmussen, que presidia a sessão, teve de se contentar na tribuna de passar o microfone para uma chuva de críticas.

Quando os trabalhos foram retomados às três horas da manhã, havia exasperação e frustração depois de 12 dias de árduas negociações, o pequeno arquipélago de Tuvalu, no Pacífico sul, foi o primeiro atacar.

Em profundo desacordo com o texto, que fixa um aquecimento máximo de 2 graus, o representante de Tuvalu qualificou o acordo como “um punhado de moedinhas para trair nosso povo e nosso futuro”. As pequenas ilhas do arquipélago militam para fixar o aquecimento máximo a 1,5 grau, para não serem submergidas pelo mar.

A América do Sul também fez críticas severas. Bolívia, Venezuela e Cuba acusaram Rasmussen de ter “feito obstáculo à democracia e à transparência” e ter dado “um golpe de Estado contra as Nações Unidas”.

O tom foi ainda mais crítico quando subiu à tribuna o representante do Sudão, Lumumba Stanislas Dia-Ping, comparando o plano para o clima dos chefes de Estado ao Holocausto. “Essa declaração convida a África a assinar um pacto suicida, solução fundada nos valores que enviaram 6 milhões de pessoas aos fornos, na Europa”, disse o sudanês.

“Repugnante”, respondeu o ministro britânico do Meio Ambiente, Ed Miliband, sentado junto com os representantes dos Estados Unidos. “Desprezível”, acrescentou o representante da Suécia.

Por sua vez, o chefe da delegação dos Estados Unidos, Todd Stern, lembrou que seu presidente consultou longamente seus homólogos brasileiro, indiano, chinês e sul-africano e achava “decepcionante ver que esse trabalho não era reconhecido e mesmo desonrado por certos participantes.”


 

Os ecologistas ultrajados

Pascal Husting, director de Greenpeace França, denunciou um “desastre” e um “recuo” em relação a Kyoto, com um projecto de acordo que, de fato, é uma brochura turística”. Ele criticou a ausência de qualquer engajamento para transformar esse acordo político em tratado obrigatório. “Não há mais nenhuma referência cientifica, nenhuma visão a longo prazo e qualquer medida nacional. É totalmente voluntário e ninguém vai controlar nada. De qualquer maneira, não está à altura das recomendações da ciência”, disse Husting.

O militante ecologista francês e produtor de televisão Nicolas Hulot, julgou o resultado da conferência “aflitivo” e “desolador” , acrescentando que “foi perdida uma oportunidade histórica” para o futuro do planeta.


 

A Suíça aguarda

A Suíça não participou as negociações de última hora sobre o texto. Para a delegação helvética, a natureza do acordo anunciado sexta-feira pelos presidentes Obama e Sarkozy ainda não está clara.

“Se ele for adoptado, parece um texto bem equilibrado”, disse sexta-feira à noite o chefe suplente da delegação suíça, José Romero, sob reserva de uma melhor análise do texto. “Não há nada de obrigatório, mas vai é bem avançado em termos de compromissos voluntários dos Estados na redução de gases a efeito estufa e prevê um programa detalhado para prosseguir o trabalho”, explicou Romero.

/fonte swiss info
swissinfo.ch com agências

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